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mãe e filha abraçadas

Emoções equilibradas desde a infância

06/08/2025

Um simples “não” pode causar desconforto em muitas crianças, mas, quando bem acompanhado, esse incômodo pode se transformar em aprendizado emocional. Recusar um pedido, perder em uma brincadeira ou lidar com a ausência de um colega são situações que, embora pareçam pequenas, constroem uma das competências mais importantes para a vida adulta: a resiliência.

Ao contrário do que se imagina, a criança resiliente não é aquela que se mostra sempre forte ou indiferente às dificuldades. É, sim, a que reconhece seus sentimentos, sabe que pode contar com o apoio de adultos confiáveis e, com o tempo, aprende a encontrar estratégias para superar os momentos difíceis. Trata-se de uma habilidade emocional que se forma pouco a pouco, em vivências cotidianas — e que pode ser estimulada desde os primeiros anos. “Proteger não é evitar que a criança sofra, mas prepará-la para reconhecer emoções, elaborar o que sente e seguir em frente com equilíbrio e autoconfiança”, explica Derval Fagundes de Oliveira, diretor do Colégio Anglo Salto. 

A construção da resiliência passa primeiro pela qualidade da relação com os adultos de referência. Quando a criança se sente acolhida, ouvida e respeitada, ela cria uma base segura que permite explorar o mundo com mais autonomia e tolerância às frustrações. A escuta ativa dos pais, a valorização das emoções e a explicação clara sobre limites são práticas que ajudam a formar esse alicerce emocional.

No entanto, a simples presença do adulto não é suficiente. É preciso que ele saiba conduzir os momentos de desafio com empatia e firmeza. Diante de uma situação frustrante — como a perda de um brinquedo ou um conflito entre amigos —, é importante reconhecer o sofrimento da criança sem ignorá-lo, mas também sem superprotegê-la. Permitir que ela sinta, nomeie o que sente e descubra soluções é o que realmente fortalece sua estrutura emocional.

Resiliência infantil nasce da escuta, da confiança e das experiências

Outro ponto importante é oferecer vivências que desafiem a criança de forma adequada à sua idade. Isso significa não apenas permitir que enfrente pequenos obstáculos, como também dar espaço para que ela os supere com autonomia. Montar um quebra-cabeça difícil, participar de uma gincana, esperar a vez em uma fila ou ajudar a arrumar a bagunça feita após a brincadeira são situações comuns que favorecem o fortalecimento emocional.

A consistência das regras e das consequências também desempenha papel fundamental. Crianças precisam entender que seus atos têm efeitos e que as escolhas envolvem responsabilidade. Não se trata de punição, mas de consequência educativa: se derrubou a água de propósito, ajuda a enxugar; se gritou com um colega, precisa pensar em como reparar. São experiências assim que constroem noções de empatia, respeito e autorregulação.

Na escola, as oportunidades para desenvolver resiliência se multiplicam. A convivência com colegas, as atividades em grupo, os conflitos naturais do dia a dia e as situações de frustração — como não ser escolhido em um jogo ou errar uma resposta — fazem parte de um cenário em que a criança aprende a reagir com maturidade emocional. Mas, para isso, o ambiente escolar precisa ser sensível, acolhedor e educativo.

Quando um professor acolhe um choro sem julgamento, propõe uma reflexão sobre o erro ou sugere formas de resolver um conflito de forma justa, ele não apenas ensina conteúdos escolares, mas ajuda a formar seres humanos emocionalmente mais preparados. Atividades como rodas de conversa, contação de histórias com temas emocionais e dinâmicas de grupo que exploram sentimentos são formas eficazes de estimular o autoconhecimento e o autocontrole.

A neurociência confirma que o cérebro das crianças responde diretamente às experiências emocionais vividas. Quanto mais vezes ela se vê diante de um desafio emocional com o suporte adequado, mais seu cérebro desenvolve circuitos relacionados à resiliência. Esse tipo de estresse moderado, acompanhado e bem conduzido, é chamado de “estresse positivo” — essencial para o amadurecimento da mente.

A resiliência também se reforça pelo exemplo. Crianças observam o comportamento dos adultos ao seu redor. Se presenciam reações agressivas ou descontroladas diante de contrariedades, tendem a reproduzir esse padrão. Por outro lado, quando pais e educadores demonstram serenidade diante de imprevistos, falam sobre seus sentimentos e buscam soluções com calma, transmitem o modelo de que é possível enfrentar adversidades sem se desestabilizar.

Livros infantis que abordam temas como medo, tristeza, saudade e frustração também são ótimos aliados

Eles ajudam a criança a se identificar com os personagens, elaboram sentimentos de forma simbólica e ampliam o repertório emocional. O mesmo vale para expressões artísticas: desenhar, pintar, representar uma cena ou criar uma história são maneiras lúdicas e eficazes de lidar com as emoções.

É importante lembrar que crianças diferentes reagem de formas diferentes a um mesmo desafio. Algumas são mais sensíveis, outras mais impulsivas. O importante é reconhecer essas diferenças, respeitar o tempo de cada uma e oferecer estratégias personalizadas. Incentivar o esforço, elogiar atitudes de superação e destacar progressos — por menores que sejam — são atitudes que ajudam a fortalecer a autoestima.

O excesso de proteção, ao contrário do que muitos imaginam, pode ser prejudicial. Evitar que a criança passe por qualquer tipo de frustração a impede de desenvolver recursos internos para lidar com situações adversas. Quando os adultos se antecipam a todos os problemas e resolvem tudo por ela, a mensagem implícita é: “você não é capaz”. Já quando permitem que ela enfrente os próprios desafios, com apoio e encorajamento, estão dizendo: “você pode aprender e superar”.

Além das relações familiares e escolares, o ambiente físico também influencia. Lugares organizados, com previsibilidade e rotina estruturada, proporcionam segurança. Saber o que esperar do dia, ter horários definidos e limites claros ajudam a criança a entender o mundo como um espaço confiável — condição essencial para desenvolver autoconfiança e resiliência.

O uso de tecnologias e redes sociais, por sua vez, merece atenção especial

A superexposição a estímulos digitais e a dificuldade em lidar com frustrações imediatas — como perder em um jogo eletrônico ou não receber curtidas suficientes — têm gerado crianças menos tolerantes ao desconforto. Por isso, o uso consciente e mediado de telas deve fazer parte da educação emocional.

Por fim, é fundamental lembrar que nenhuma criança é resiliente sozinha. A resiliência se constrói em ambiente coletivo, com vínculos afetivos fortes, relações de confiança e experiências significativas. A escola e a família, quando caminham juntas, tornam-se os principais alicerces desse processo.

Preparar uma criança para o futuro não é poupá-la das dificuldades, mas ensiná-la a enfrentá-las com coragem, empatia e inteligência emocional. Cultivar a resiliência é oferecer à criança uma das ferramentas mais poderosas para navegar pelas incertezas da vida — e esse aprendizado começa nas experiências mais simples do dia a dia.

Para saber mais sobre resiliência, visite https://helenpsicologa.com.br/blog/saiba-como-ensinar-uma-crianca-a-lidar-com-frustracoes/ e https://www.hojeemdia.com.br/opiniao/neurociencia-e-saude/pequenas-frustrac-es-na-infancia-a-chave-para-desenvolver-resiliencia-e-inteligencia-emocional-1.980616

 


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