25/08/2025
Nos primeiros anos de vida, a criança experimenta um turbilhão de emoções que vão da alegria à tristeza, passando pela raiva, o medo, a frustração e o ciúme. Esses sentimentos aparecem de maneira intensa e, muitas vezes, sem que o pequeno tenha ferramentas para compreendê-los ou expressá-los de forma clara. É nesse momento que a orientação dos adultos se torna fundamental. Ao ensinar a reconhecer e lidar com emoções, pais e responsáveis ajudam a formar uma base sólida para o desenvolvimento saudável, tanto no campo acadêmico quanto no convívio social.
As explosões emocionais tão comuns na infância geralmente estão ligadas à dificuldade de nomear ou compreender o que se sente. Uma birra, por exemplo, pode ser resultado de frustração diante de um brinquedo que não funciona mais, enquanto o silêncio ou o choro persistente podem estar relacionados a medos não expressos. O papel dos pais, nesse caso, é oferecer palavras e exemplos para que a criança consiga dar sentido ao que vive. Dizer frases como “vejo que você está bravo porque seu brinquedo quebrou” ou “entendo que esteja com medo do escuro” valida o sentimento e mostra que sentir é natural.
A forma como os adultos reagem às próprias emoções é um dos maiores ensinamentos para a criança. Quando os pais demonstram equilíbrio ao lidar com situações desafiadoras, transmitem uma mensagem clara de que é possível sentir raiva, tristeza ou frustração sem perder o controle. Exprimir verbalmente sentimentos, como “estou decepcionado, mas vou respirar fundo antes de decidir o que fazer”, é um exemplo poderoso que mostra, na prática, a diferença entre sentir e agir impulsivamente.
É nesse ponto que o lar se torna o primeiro espaço de educação emocional. A criança observa o comportamento dos pais e o replica em suas próprias relações. O acolhimento dos sentimentos é decisivo: ouvir atentamente, validar e dar espaço para que a criança expresse suas emoções cria um ambiente seguro. “O reconhecimento das emoções desde cedo fortalece a confiança e estimula a autonomia dos alunos”, destaca Derval Fagundes de Oliveira, diretor do Colégio Anglo Salto. Essa segurança emocional permite que os pequenos enfrentem os desafios da vida escolar e social com mais preparo.
Além disso, reconhecer que cada emoção tem um propósito evita que a criança cresça com a ideia de que certos sentimentos são “errados”. A raiva pode sinalizar necessidade de limites; o medo, pedido de proteção; a tristeza, um momento de despedida ou perda. Quando essas experiências são explicadas, a criança aprende a identificar causas, refletir sobre suas reações e buscar estratégias saudáveis para lidar com elas.
A neurociência comprova que emoções e aprendizagem são processos interligados. Uma criança ansiosa ou insegura terá mais dificuldade em se concentrar, enquanto aquela que se sente acolhida se mostra mais aberta ao aprendizado. A segurança emocional funciona como uma espécie de alicerce para que o conhecimento seja absorvido. Professores relatam que alunos que conseguem nomear e compartilhar o que sentem tendem a ter maior participação em atividades, mostram mais interesse e apresentam menos comportamentos de indisciplina.
As emoções também influenciam diretamente as relações interpessoais. Ao compreender sentimentos, a criança desenvolve empatia, aprende a respeitar diferenças e consegue resolver conflitos de maneira mais saudável. Projetos coletivos, brincadeiras em grupo e rodas de conversa oferecem oportunidades para que os pequenos experimentem essas habilidades. Quando pais e educadores incentivam a escuta e o respeito, os alunos começam a enxergar o ponto de vista do outro e a lidar melhor com frustrações cotidianas.
Segundo Derval Fagundes de Oliveira, “trabalhar a educação emocional não significa eliminar sentimentos negativos, mas aprender a transformá-los em experiências construtivas”. Essa abordagem ensina que emoções intensas não precisam ser reprimidas, e sim canalizadas de forma positiva, ajudando na formação de adultos mais resilientes e equilibrados.
A rotina familiar oferece inúmeras chances de estimular a educação emocional. Nomear sentimentos de forma simples é um dos primeiros passos. Ao dizer “vejo que você ficou frustrado por não conseguir resolver esse quebra-cabeça”, o adulto traduz em palavras a experiência interna da criança. Validar essas emoções também é essencial: mostrar que está tudo bem sentir tristeza ou raiva ajuda a criança a compreender que não precisa esconder o que sente.
Outra estratégia eficaz é estimular o uso de recursos criativos, como desenho, música ou brincadeiras de faz de conta, para que a criança expresse o que ainda não consegue verbalizar. Histórias infantis, como “O Monstro das Cores” ou “O Emocionário”, são ferramentas que ampliam o vocabulário emocional e permitem que os pequenos se identifiquem com personagens que vivem situações semelhantes às suas.
O diálogo contínuo em família também deve incluir momentos de reflexão. Perguntar como a criança se sentiu em determinada situação e o que poderia fazer diferente da próxima vez é um exercício que estimula a autorregulação. Além disso, técnicas simples como a respiração profunda podem ser ensinadas de forma lúdica para que a criança aprenda a se acalmar diante de situações de estresse.
É fundamental que pais e responsáveis reconheçam ainda a importância do ambiente em que a criança cresce. Rotinas equilibradas, com sono adequado, alimentação saudável e tempo para brincar, são fatores que influenciam diretamente a forma como as emoções são vividas. Crianças cansadas ou sobrecarregadas tendem a ter menos tolerância à frustração, o que pode levar a crises emocionais mais intensas.
Ajudar a criança a reconhecer e lidar com suas emoções é um investimento que traz reflexos por toda a vida. Essa habilidade fortalece a autoestima, amplia a capacidade de empatia e melhora a qualidade das relações pessoais e acadêmicas. Família e escola, ao caminharem juntas nesse processo, oferecem às crianças as ferramentas necessárias para se tornarem adultos mais conscientes e preparados para os desafios da sociedade atual. O legado deixado por essa parceria é a formação de indivíduos mais resilientes, equilibrados e capazes de lidar de forma saudável com as diversas situações que a vida apresenta.
Para saber mais sobre emoções, visite https://leiturinha.com.br/blog/6-atitudes-para-ajudar-os-pequenos-entender-suas-proprias-emocoes/ e https://plataformaredepsicoterapia.com/qual-a-responsabilidade-dos-pais-no-desenvolvimento-emocional-dos-filhos/