03/10/2025
Brincadeiras improvisadas, como montar cabanas com lençóis ou disputar corridas no quintal, fazem parte do patrimônio afetivo da infância e têm papel fundamental no desenvolvimento integral. No Dia das Crianças, esse aspecto ganha destaque porque traz à tona a necessidade de valorizar o brincar como direito, e não como simples passatempo. Através dele, a criança organiza o pensamento, compreende regras, amplia o vocabulário, exercita empatia e fortalece vínculos sociais.
Jogos de faz de conta são um exemplo claro dessa construção. Ao assumir papéis de médicos, professores ou exploradores, os pequenos ampliam seu repertório cultural e emocional, elaboram medos e testam diferentes perspectivas. Essa experiência ajuda a lidar com frustrações, a negociar regras e a aprender que limites fazem parte da vida em grupo.
Pesquisas em psicologia do desenvolvimento mostram que o brincar não apenas diverte, mas ativa áreas do cérebro relacionadas à memória, atenção e tomada de decisões. Atividades motoras — como pular corda ou subir em árvores — ajudam a desenvolver coordenação e equilíbrio, ao mesmo tempo em que favorecem a autoconfiança. Jogos de tabuleiro estimulam planejamento e raciocínio lógico.
Mesmo em um cenário cada vez mais digital, brincar continua sendo um recurso insubstituível de aprendizagem. “O Dia das Crianças é um lembrete para que pais e educadores preservem espaços e tempos de brincadeira, pois eles sustentam habilidades que acompanharão a vida adulta”, afirma Derval Fagundes de Oliveira, diretor do Colégio Anglo Salto.
Esse processo se fortalece quando adultos estão presentes de forma genuína. Observar, participar e comentar cada etapa dá segurança e reforça o vínculo. Mais importante do que oferecer brinquedos sofisticados é garantir atenção, afeto e oportunidades de explorar.
Cada criança segue seu próprio compasso. Enquanto algumas falam cedo, outras se destacam primeiro em atividades motoras ou na criatividade. Comparações frequentes podem gerar ansiedade e prejudicar a autoestima. Valorizar o tempo de cada um significa compreender que o desenvolvimento não acontece de maneira linear nem padronizada.
Respeitar a singularidade também implica estimular autonomia progressiva. Escolher roupas entre duas opções, organizar brinquedos antes do banho ou ajudar em tarefas simples de casa são exemplos de responsabilidades que fortalecem a noção de pertencimento e responsabilidade. Quando a criança participa, entende o sentido das regras e aprende a valorizar o coletivo.
Segundo Derval Fagundes de Oliveira, respeitar o ritmo de cada aluno é parte essencial do trabalho de educar. “A infância tem seu próprio tempo, e cada conquista deve ser celebrada dentro dessa trajetória singular”, destaca. Esse olhar evita pressões desnecessárias e dá espaço para que o aprendizado ocorra de forma saudável.
Educar na infância exige equilíbrio entre carinho e limites claros. O afeto garante acolhimento, enquanto a firmeza organiza comportamentos. Regras estáveis, explicadas de forma simples, ajudam a dar previsibilidade. A criança sabe o que esperar e sente segurança para explorar dentro desses contornos.
A consistência é fundamental. Um adulto que mantém o mesmo padrão de orientação — sem recorrer a gritos ou humilhações — transmite confiança. Ao contrário, a instabilidade gera insegurança e dificulta a cooperação. O exemplo também ensina: se a criança vê paciência e diálogo, aprende a lidar com frustrações de modo construtivo; se presencia explosões e desrespeito, tende a reproduzir esse padrão.
Pequenos ajustes no cotidiano ajudam. Estabelecer horário para dormir, limitar o tempo de telas, definir a regra de guardar brinquedos antes de começar outra atividade. Essas práticas organizam a rotina e oferecem parâmetros que se repetem, o que dá conforto emocional e previsibilidade.
Disputas entre irmãos, divergências em jogos ou ciúmes de colegas são naturais na infância. O papel do adulto não é evitar todo conflito, mas mediar de forma construtiva. Aproximar as crianças, reconhecer os sentimentos envolvidos e propor alternativas dá ferramentas para que elas encontrem soluções próprias no futuro.
Quando há desrespeito, o reparo é essencial. Pedir desculpas, reorganizar o brinquedo ou propor uma nova forma de brincar são atitudes que ensinam responsabilidade. A mensagem é clara: atos têm consequências, mas é possível reconstruir vínculos. Esse aprendizado se reflete ao longo da vida em maior empatia, senso de justiça e capacidade de negociação.
Crianças muitas vezes sentem antes de conseguir verbalizar. Choro, silêncio ou birra são tentativas de comunicação. Nomear emoções ajuda a traduzir essas experiências: “parece que você ficou frustrado porque perdeu a vez” ou “entendi que está triste porque o brinquedo quebrou”. Essa mediação cria vocabulário emocional e facilita a autorregulação.
Práticas simples favorecem esse processo. Ler histórias com personagens que enfrentam dificuldades, propor respirações divertidas ou organizar um espaço da calma em casa oferecem recursos acessíveis. O objetivo não é evitar sentimentos, mas dar meios para atravessá-los sem ferir a si mesmo ou aos outros. Esse aprendizado dá base para relações mais respeitosas e saudáveis.
O 12 de outubro pode inspirar mudanças cotidianas. Não é preciso transformar a data em consumo excessivo. O que realmente marca são os momentos compartilhados: piqueniques improvisados, trilhas de caça ao tesouro em casa, sessões de cinema em família, cozinhar juntos uma receita simples. O tempo de qualidade, somado ao afeto e à presença, é o que fica na memória.
Pais podem aproveitar a data para revisar hábitos: há tempo livre para brincar em casa? A rotina permite momentos de silêncio criativo? Os dispositivos eletrônicos estão sendo mediados com clareza? Pequenas escolhas, como caminhar até a padaria contando placas ou criar brinquedos com sucata limpa, tornam a infância mais rica e significativa.
O Dia das Crianças é, acima de tudo, um lembrete de que a celebração da infância não deve se limitar a uma data. Preservar o brincar, respeitar o tempo e cultivar vínculos precisa ser prática constante. Quando adultos assumem esse compromisso, oferecem às crianças condições de crescerem seguras, criativas e capazes de transformar suas descobertas em aprendizagens duradouras.