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crianças olhando na lupa - Como despertar a curiosidade científica nas crianças

Desenvolvendo a curiosidade científica nas crianças

14/11/2025

Pesquisas recentes revelam que a curiosidade deixa o cérebro em estado especialmente receptivo à aprendizagem. Quando uma criança está curiosa sobre determinado assunto, ela não apenas memoriza melhor aquela informação específica, mas também se torna capaz de absorver outros conteúdos apresentados no mesmo período. Os cientistas da Universidade da Califórnia descobriram que esse estado mental ativa o hipocampo, região cerebral responsável pela formação de memórias, e estimula o circuito de recompensa ligado à dopamina, tornando o aprendizado uma experiência prazerosa.

Esse mecanismo neurológico explica por que crianças pequenas aprendem com tanta intensidade. Elas observam o mundo com olhos investigativos, fazem perguntas constantemente e buscam compreender os fenômenos ao seu redor. Essa característica inata, quando bem cultivada no ambiente escolar e familiar, transforma informações em conhecimento verdadeiramente significativo.


O cérebro preparado para aprender

Estudos demonstram que a curiosidade é tão determinante quanto a inteligência para o desempenho acadêmico dos estudantes. O Dr. Matthias Gruber, um dos pesquisadores envolvidos nos experimentos com ressonância magnética, explica que a curiosidade prepara o cérebro para receber e reter qualquer tipo de informação. Isso significa que um professor capaz de despertar a curiosidade sobre determinado tema deixa os alunos melhor preparados para absorver até mesmo conteúdos que normalmente considerariam difíceis ou entediantes.

Um estudante com dificuldades em matemática, por exemplo, pode se beneficiar se os problemas forem personalizados para coincidir com seus interesses específicos, ao invés de utilizar apenas questões genéricas de livros didáticos. Ao despertar a curiosidade inicial, todo o processo de aprendizagem matemática se torna mais efetivo.

A infância representa o período mais propício para o desenvolvimento dessa curiosidade científica. Nessa fase, as crianças estão constantemente interagindo com seu meio, construindo conhecimentos prévios que servem como base para aprendizagens futuras. O conhecimento que a criança traz por estar sempre explorando seu ambiente deve ser valorizado como ponto de partida para um trabalho educativo produtivo.

Estratégias práticas para estimular a investigação

Derval Fagundes de Oliveira, diretor do Colégio Anglo Salto, ressalta que "começar pela pergunta, e não pela resposta pronta, mantém o cérebro em estado ativo de busca e prolonga os benefícios neurológicos da curiosidade aguçada".

Existem diversas práticas pedagógicas que transformam a sala de aula em um ambiente investigativo. A estratégia da "pergunta da semana" apresenta aos alunos uma questão especial que demanda investigação e pesquisa. A pergunta fica exposta desde o início da semana para que os estudantes tragam respostas na sexta-feira, podendo pesquisar com auxílio da família na internet ou em livros. Esse método evita perguntas com respostas muito longas ou que sejam complexas ou fáceis demais, mantendo o desafio em nível adequado.

Outra ferramenta valiosa é a caixa de perguntas. Crianças têm muitas dúvidas sobre seu corpo, sentimentos e outras questões, mas nem sempre têm coragem de perguntar abertamente. Uma caixa permanente onde possam depositar suas dúvidas ajuda nesse processo. Para crianças que ainda não dominam a escrita, trabalhar em duplas ou grupos resolve a questão. Periodicamente, uma dúvida é sorteada e respondida para toda a turma.

As rodas de conversa sobre temas levantados previamente pelos alunos permitem que façam questionamentos entre si e com o professor. Uma variação interessante envolve levar um objeto "secreto" escondido em uma caixa para que as crianças façam perguntas primeiro para adivinhar o que é, e depois investiguem sua utilidade, produção e outras características.

Experimentos que vão além da receita pronta

O trabalho de campo aproxima o mundo escolar do mundo real, facilitando a apropriação de conceitos que em sala de aula poderiam parecer abstrações. Através dele, desenvolvem-se capacidades de abstração, experimentação, trabalho em equipe, ponderação e senso de responsabilidade. Ao observar, o aluno busca olhar o familiar com novo olhar, a partir de conhecimentos prévios.

Os experimentos merecem atenção especial quanto à metodologia. Não devem ser apenas demonstrações seguindo "receitas" prontas, mas atividades investigativas onde o aluno manipula materiais, observa, mistura, mede, coleta dados, analisa e conclui. O estudo de ciências não pode se tornar algo estático.

Segundo a teoria de Piaget, o indivíduo só recebe um conhecimento se estiver preparado para recebê-lo, se puder agir sobre o objeto de conhecimento para inseri-lo em um sistema de relações. Não existe novo conhecimento sem que já exista conhecimento anterior para assimilá-lo e transformá-lo. Por isso, os experimentos devem ser trabalhados como problemas a serem resolvidos, promovendo mudança conceitual.

O reconhecimento do problema é fase de reflexão onde o objetivo é a interpretação pessoal de cada aluno. Na transformação do problema, os estudantes usam suas ideias prévias para fazer predições e elaborar estratégias experimentais para testar hipóteses. Esse processo desenvolve o pensamento científico de forma genuína.


O papel essencial do professor mediador

O professor tem a responsabilidade de despertar no aluno o interesse pela investigação científica. Para isso, pode utilizar a curiosidade natural das crianças, incentivando seu questionamento sobre tudo que sabem, ouvem e veem. Torna-se fundamental a mediação entre o conhecimento que o aluno traz e o conhecimento científico, para que as atividades experimentais possam ir além da simples observação.

O aluno deve ser incentivado a construir hipóteses, refletir, relatar e discutir. A aula expositiva tradicional implica na concepção dos alunos apenas como arquivo de informações, o que não estimula a curiosidade nem promove aprendizagem significativa. É necessário que os professores parem de dar respostas prontas e passem a fazer intervenções pedagógicas que também podem ser em forma de perguntas, levando os pequenos à reflexão e à pesquisa.


Leitura, escrita e jogos investigativos

Investir na leitura e escrita de textos informativos científicos é fundamental. Além dos livros didáticos, outras fontes como enciclopédias, artigos de jornais e revistas, folhetos de campanhas de saúde oferecem textos valiosos. Após leituras, propor a escrita de textos do tipo "Você sabia que...?" ajuda a criança a aprender a fazer e responder perguntas, além de auxiliar na alfabetização.

Jogos tipo "Passa ou repassa" podem ser adaptados deixando que as próprias crianças produzam perguntas em grupo e pesquisem as respostas. Depois, desafiam os colegas, divertindo-se e aprendendo através do questionamento. Essa abordagem lúdica mantém o engajamento alto e desenvolve habilidades de pesquisa e formulação de questões.

A participação insubstituível da família

O papel da família no incentivo à curiosidade infantil é crucial. É no ambiente familiar que a criança começa a fazer suas primeiras perguntas sobre o mundo, e a forma como essas perguntas são recebidas influencia diretamente o desenvolvimento de sua curiosidade.

Famílias que acolhem as perguntas das crianças, auxiliam em pesquisas, exploram juntas diferentes fontes de informação e valorizam a busca pelo conhecimento contribuem significativamente para manter viva a chama da curiosidade. Quando a escola propõe atividades investigativas, o apoio familiar na busca por respostas torna a experiência mais rica e significativa.

É importante que os pais e responsáveis entendam que nem sempre precisam ter todas as respostas. O mais valioso é embarcar junto com a criança na jornada de descoberta, pesquisando juntos, consultando livros, vídeos educativos e outras fontes confiáveis. Esse processo compartilhado fortalece vínculos e ensina à criança que a busca pelo conhecimento é uma aventura que pode ser prazerosa e colaborativa.


Conexões com a vida real

O desempenho do aluno melhora consideravelmente quando ele sabe para que está fazendo determinada atividade e compreende o propósito de sua aprendizagem. Estabelecer relações entre conhecimento novo e o que o aluno já sabe gera conflitos cognitivos que resultam em reorganização de ideias e aprendizagem efetiva.

Para manter a curiosidade viva, é essencial que os conteúdos apresentem conexões com a vida cotidiana e com desafios reais. Estudar a história da ciência também é importante para que os alunos analisem contextos e compreendam como conhecimentos são construídos e acumulados ao longo do tempo, influenciados pelas tendências de cada época. Isso mostra que todas as ideias devem ser respeitadas e valorizadas, e que o conhecimento científico não é um conjunto acabado e estático de verdades.

Vivemos em uma sociedade que convive com a supervalorização do conhecimento científico e crescente intervenção da tecnologia no cotidiano. Torna-se impossível pensar na formação de um cidadão crítico à margem do saber científico. Para formar pessoas capazes de compreender e participar ativamente do mundo contemporâneo, é fundamental cultivar a curiosidade desde a infância.

As crianças perdem o interesse quando o ensino se resume apenas ao exercício de memorização de conceitos desconectados de sua realidade. A dificuldade em ensinar torna-se evidente quando os alunos são tratados apenas como receptáculos de respostas sobre perguntas que nunca chegaram a formular. Por isso, criar espaços e momentos para as perguntas e questionamentos infantis não é opcional, mas necessário para uma educação que forme pensadores críticos e investigativos.

A curiosidade é, sem dúvida, o que move o conhecimento. Alunos curiosos não apenas fazem perguntas, mas procuram ativamente as respostas, engajando-se profundamente no processo de aprendizagem. Despertar e manter essa curiosidade infantil é fundamental para formar cidadãos críticos e participativos da sociedade, preparados para os desafios de um mundo em constante transformação.

Para saber mais sobre curiosidade, visite https://porvir.org/por-curiosidade-melhora-aprendizagem/ e https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/biologia/importancia-da-pratica-cientifica-para-a-construcao-do-conhecimento-no-ensino-de-ciencias.htm

 


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